terça-feira, 18 de setembro de 2012

EXTENSÕES COMPARADAS DOS PAIS PROVEDORES E DA PROLE: FUNÇÕES DE DOMÍNIO E VIAS DE AUTONOMIA






Prof. Paulo Sergio Teixeira


EXTENSÕES COMPARADAS DOS PAIS PROVEDORES E DA PROLE: FUNÇÕES DE DOMÍNIO E VIAS DE AUTONOMIA


Resumo:

A sociedade como um todo está, ao que indicam as observações, habituada a obedecer uma ordenação hierárquica em conformidade aos padrões estabelecidos de forma irrefletida, ou mesmo, em meio a um permanente conflito entre tradição e renovação. Este ensaio propõe uma reflexão sobre a possibilidade da mesma sociedade seguir esta ordem de hierarquia nascida e forjada inicialmente no núcleo familiar. A partir daí, o padrão hierárquico inicial poderia alcançar extensões mais amplas, permanecendo introjetadas na vida dos indivíduos que compõem os vários setores sociais de modo a reproduzi-lo. Parece haver, de forma mais ou menos comum, a tentativa consciente ou não de superação das formas de poder hierarquizado, num exercício de enfrentamento que deve constar de algumas vias possíveis. A resposta a esta aparente constante pode ser dada, dentre outros campos funcionais, por aqueles que buscam decifrar os mecanismos sociais a fim de cumprir com o papel do esclarecimento.
Palavras-chave: Hierarquia social. Autonomia do indivíduo. Evolução e conscientização da sociedade.

  
COMPARED EXTENSIONS OF PARENTS AND PROVIDERS PROLE: FUNCTIONS OF THE FIELD AND WAYS OF AUTONOMY


Abstract:

Society as a whole is that the observations indicate, accustomed to obey a hierarchical ordering in accordance to established standards so thoughtless, or even in the midst of an ongoing conflict between tradition and renewal. This paper reflects on the possibility of this society to follow this order of hierarchy originally born and forged in the nuclear family. Thereafter, the initial hierarchical standard could achieve wider reaches, introjected remaining life of the individuals in various social sectors in order to reproduce it. There seems to be more or less common, the conscious or unconscious attempt to overcome the forms of hierarchical power, an exercise in confrontation that must appear in some possible ways. The answer to this apparent constant can be given, among other fields functional, for those who seek to unravel the social mechanisms in order to fulfill the role of clarification.

Keyords: social hierarchy. Autonomy of the individual. Evolution and consciousness of society .




  • Mãe:
  • As grandes deusas mães foram, todas, deusas da fertilidade [...]. Encontra-se nesse símbolo da mãe a mesma ambivalência que nos da terra e do mar: a vida e a morte são correlatas. Nascer é sair do ventre da mãe; morrer é retornar à terra. A mãe é a segurança do abrigo, do calor, da ternura e da alimentação; é também, em contrapartida, o risco da opressão pela estreiteza do meio e pelo sufocamento através de um prolongamento excessivo da função alimentadora e guia: a genitora devorando o futuro genitor, a generosidade transformando-se em cooptadora e castradora. (CHEVALIER; GHEERBRANT, p.580, 1999).


  • Pai:
  • Símbolo da geração, da posse, da dominação, do valor. Nesse sentido, ele é uma figura inibidora; castradora, nos termos da psicanálise. Ele é uma representação de toda forma de autoridade: chefe, patrão, professor, protetor, deus. O papel paternal é concebido como desencorajador dos esforços de emancipação, exercendo uma influência que priva, limita, esteriliza, mantém na dependência. Ele representa a consciência diante dos impulsos instintivos, dos desejos espontâneos, do inconsciente; é o mundo da autoridade tradicional diante das forças novas de mudança. (CHEVALIER; GHEERBRANT, p.678, 1999).


O grande pai, a grande mãe: enfrentar, ficar ou fugir?

No paradigmático “Complexo de Édipo”, formatado primeiramente pelo Pai da Psicanálise, descobriu-se que o filho desenvolveria um desejo inconsciente de eliminar o primeiro grande competidor que a figura do pai representava. Do mesmo modo, também a filha em relação à mãe, acabaria por estruturar sua consciência a partir do mesmo mecanismo inconsciente.

Orientação avançada para a época, inicia as grandes explicações sobre a estruturação da consciência humana, mas não podemos perder de vista que tal ideia foi projetada em meio às experiências e observações de uma sociedade essencialmente patriarcal e conservadora. É bem provável que se Freud pertencesse a sociedade tradicionalmente matrilinear, como é comum dentre os muitos povos africanos, certamente teria mais elementos para ampliar sua tese.

  • Os homens americanos não sabem como fazer o amor... Os homens americanos entram no casamento sem a menor experiência para enfrentar coisa tão complicada. Na Europa, tudo é diferente; os homens tomam a iniciativa e é assim que deve ser. (RUITENBEEK, 1969, cit “Fragments of na Analysis with Freud, de Joseph Wortis”).

Acredito que as relações entre indivíduo/família, estudante/professor, cidadão/Estado sejam passíveis de uma analogia que pode oferecer amplas possibilidades de estudo. Partindo-se do convívio familiar como fator determinante do progresso espiritual do indivíduo e, por conseguinte, da sociedade como um todo, é possível verificar-se que no seio da família é que estas tais relações ganham vulto.

  
  • [...] na história de cada indivíduo, esteve presente a relação pai-filho. Embora presuma-se que, na vida política democrática, os eleitores sejam seres humanos maduros, não se pode ignorar a existência de um vestígio da relação entre pais e filhos, o que, de resto, possui vantagens bastante óbvias. Na eleição democrática, o que ocorre em certa medida é que o povo elege pais temporários, o que significa que reconhecem o fato de que, de certo modo, eles ainda permanecem crianças. (WINNICOTT, p.242, 2001).



A concepção de um “grande pai”, de uma “grande mãe”, introjetada ancestralmente desde a célula familiar nos componentes do organismo social humano, parece ser a base em que se ergueu toda lógica hierarquizante que há tempos nos é tão própria:

   

Nasce destas relações originais, um primeiro sentimento de inferioridade ou de submissão, encontrando em seu ápice, seguindo as letras de Freud, o desejo inconsciente, num primeiro momento, da eliminação ou superação dos provedores como forma radical de enfrentamento e libertação rumo à exclusividade. O que vem depois, sem maiores deduções, é um período subsequente de adaptação e convívio.
  • O complexo de Édipo vai cada vez mais revelando sua importância como fenômeno central do primeiro período sexual infantil. Depois desaparece, sucumbe ao recalcamento, como dizemos, e é seguido do período latente. Não vimos ainda, todavia, claramente quais são as causas que provocam seu fim. A análise parece atribuir este às decepções dolorosas sofridas pelo indivíduo. [...] O complexo de Édipo malogrará por si mesmo a conseqüência de sua impossibilidade interna. (FREUD, [s.d.], p.23)

Dentro disso a “convivência” que se desdobra nas relações sociais deve consistir em si apenas um único caminho possível neste sistema. Seguindo a lógica do investigador, como caminho natural, é perfeitamente possível ampliar este conceito sobre os mesmos mecanismos que moldam a consciência humana. A postura de aceitação em uma relação de conflito pode ser assim somente um de três caminhos possíveis ao indivíduo junto ao grupo, ou numa realidade mais ampla, do indivíduo autônomo em meio à sociedade. Mas devem restar, além dessa postura de conformação, o “enfrentamento” ou a “fuga”.

É possível que uma posição de aceitação esteja estruturada, constantemente, com desejos esporádicos e inconscientes, ora de enfrentamento e revolta, ora de fuga e abandono. Neste caso, parece que a efetiva fuga e/ou enfrentamento, são na maioria das vezes suplantadas pela amortização dos ânimos radicais, ou, em outras palavras, pelo esforço no sentido de um convívio direto.

Parece estar justamente aí, no recalcamento expresso no ato da convivência, o exercício de aperfeiçoamento da consciência sobrepondo-se e vencendo os instintos incontroláveis. Desta forma, a postura de suportação nas relações sociais pode consistir em fator que leve verdadeiramente à evolução de nossa consciência.

Tão extremo quanto o rebentar do enfrentamento, está a via mais incerta de todas: a expansão, a fuga; aventura de um mítico heroísmo rumo ao incerto. E veja-se ainda que, na natureza, o número dos organismos que fogem é sempre superior e enveredam-se por extensões espaciais mais amplas, embora os predadores prevaleçam mais fortes e afortunados em seu próprio espaço territorial.

Consigo ver a partir disso, uma ordem de três caminhos naturais sobre o organismo social humano:

1º) enfrentamento/substituição

2º) convívio/somatização

3º) fuga/expansão


Nos primórdios da humanidade, dos primeiros grupos sedentários é certo que famílias pioneiras tenham se deslocado em busca de nova vida, estabelecendo-se em paragens afastadas dos grupos originais. Não é difícil concluir por aí, que tal possibilidade só poderia ser viável devido à amplitude espacial do território. Eis um elemento essencial que pode definir em muito os ânimos do coletivo humano.

O nosso característico uso consciente do intelecto, faz-nos, desconfio, desprezar ou desacreditar nossa parcela real movida pelos resquícios do instinto. Quando a fuga já não é uma via tão simples, bem como o enfrentamento rumo à exclusividade parece-nos cada vez menos possível nas sociedades contemporâneas, tende a prevalecer cada vez mais os esforços na suportação do convívio, e aí, certamente, produzindo como efeito a aceleração e o aperfeiçoamento superior da consciência, e no caso, de uma consciência coletiva, ou de uma superconsciência da grande prole. Material exemplar dessa hipótese talvez seja possível se averiguar: a) no aparelhamento das grandes cidades e no espírito social de época que as regem; b) na institucionalização e na evolução das classes funcionais, e; c) na progressiva propriedade evolutiva na ampliação da percepção de si e do entorno, por cada indivíduo e pelo coletivo humano.

Parece tratar-se de uma propriedade de adaptação viabilizada apenas por circunstâncias que se desenvolvem num ambiente de convívio.

Isso pode significar algo como uma subfase de resfriamento que se desenvolva quando o grupo se veja estagnado em uma ilha repleta e limitadora. Uma subfase de resfriamento que, por sua vez, representa a premissa de uma outra subfase decorrente; a de um de dois extremos radicais onde, segundo esta lógica, vejo poder extrapolar para duas possibilidades:

1. a epidemia, o canibalismo, a guerra;

2. o alargamento das fronteiras, a expansão.


Expansão é a lógica do universo desde o Big-Bang; expansão é o rumo que seguem os organismos todos no ambiente; expansão é o que, desde uma África longínqua, hominídeos vêm empreendendo incansavelmente através dos tempos sobre todos os continentes. A lógica da expansão parece ser, portanto, o verdadeiro e grande objetivo da natureza, e o aperfeiçoamento de seus elementos, fator essencial para garantir e acompanhar esta expansão, mas também, fruto resultante neste processo.

Os movimentos do colonialismo europeu sobre o Novo Mundo, nos fins da Idade Média européia, pode ser exemplo poderoso de um período de latência seguido de expansão territorial promovida pelas grandes navegações.

A Europa, forte em armas, tecnologias e, principalmente, dentro de um padrão já atingido de acúmulo e expansão progressiva, ao eclodir, choca-se com um outro padrão próprio dos povos americanos: o coletivismo sustentado em meio a sociedades frias.

Mas vale aqui observar que aquela ideia romântica do bom selvagem em equilíbrio com a natureza exuberante, seria talvez uma fase, um estágio que, apenas por uma questão de tempo histórico, estaria, mais cedo ou mais tarde, fadado a evoluir para um processo similar ao das grandes civilizações da antiguidade clássica. Tal sugestão é facilmente concebida ao se verificar os processos mais complexos dos povos pré-colombianos, em especial, dentre os mexicas.

Esta lógica de expansão e acúmulo, seguida primeiro pelos povos dominadores e logo incorporada pelos submetidos, avançou desprezando qualquer tipo de mecanismo que pudesse desenvolver paradigmas eficientes de contenção predatória. O resultado dessa evolução tresloucada é o limite natural estabelecido pelo preenchimento quase total do espaço territorial. Acredito tratar-se aí da revisitação de um limite condicionador à sociedade humana: a inflação do território. E agora, o que pensar da globalização?

Num momento em que as tecnologias presentes não possibilitam dar sequência ao mesmo projeto embasado no acúmulo e na expansão, eis que o ativismo ambiental insurge como que para assegurar e preservar os intentos da espécie e de tudo que a acompanha e lhe diz respeito: é o esforço da suportação de um convívio coletivo, aparentemente ainda não emergente, e que pode indicar um novo período de resfriamento ou de contenção. Nisso a Antropologia, a Ecologia e a História Ambiental, tornam-se excelentes métodos de estudo, pois nelas hão de se resgatar a condição original e histórica de interação do homem com o ambiente, fato até então desconsiderado pela já ultrapassada cultura consumista.

Importa agora calcular o tempo desta mais recente subfase, pois entre guerra e expansão, o período de um provável resfriamento deve ter um limite previsível. Felizmente, o universo nos é infinito, e devemos ficar todos satisfeitos por não estarmos limitados ao interior de uma bolha. Sabemos que o tempo está sempre a urgir, mas também que quando tudo parece perdido, os produtos revolucionários da tecnologia surgem como uma alternativa fenomênica a nos surpreender.


As bênçãos dos provedores e a prole renegada

É comum ouvir dos membros de nossa sociedade e mesmo entre colegas professores da rede pública, frases um tanto polêmicas como essas: “Quando eu e meus irmãos éramos pequenos, nós respeitávamos muito a família. Bastava meu pai olhar e nós já nos encolhíamos.”; ou “No meu tempo, quando eu estudava, os professores eram respeitados. Existia respeito! Mas, hoje?!...”; ou ainda: “No tempo dos militares é que era bom! As pessoas não faziam o que queriam; a polícia era respeitada! Tinha até toque de recolher, mas não tinha bandido nem vagabundos nas ruas...”.

É claro que para a sociedade de hoje, estes chavões meio nostálgicos não podem ser traduzidos como pérolas de dignidade. O espírito que reinava naquela família, naquela escola, naquela sociedade não era o do respeito, e sim, o da intimidação e do medo. Mas demonstra também o desejo explícito de ordem que o senso comum geralmente aspira a partir de uma potência externa, superior e eleita.

Talvez esta postura consista em uma posição um tanto cômoda, porque procura lançar a responsabilidade que poderia caber à própria sociedade aos cuidados de um ente maior, de um governo verdadeiramente paternal, forte, tirano se necessário, mas paternal. É a substituição do pai provedor de família por uma sua outra variante de representação que venha a nos confortar.

Aqui, o que procuro apontar é que a posição primeira de submissão a um ente maior e ordenador, está normalmente tão arraigado ao modus vivendi da sociedade quanto o respeito incondicional, involuntário, a um pai ou mãe de família por seus filhos.

É possível ainda que esta ordem hierárquica seja uma condição universal de propriedade humana, já que a criança que não foi criada por lobos, veja-se dependente de seus provedores até que consiga prover-se a si mesma, e que guardará, posteriormente, um respeito incondicional a esta relação de hierarquia condicionada pelo convívio em grupo. E aqui menciono ainda a possibilidade de haver uma via de mão dupla nessas relações, já que o grande pai/a grande mãe tanto pode mais ou menos exercer o comando, quanto a prole, legitimar, em maior ou menor grau, o poder reconhecido nos pais.

A grande representação de poder, depois do pai e da mãe de família, como, por exemplo, encarnada na figura do Estado maior, constitui-se em uma extensão real da primeira máxima hierárquica. Algo assim, como se o ser humano que veio ao mundo, tivesse nascido, acima de tudo, para ser subordinado enquanto filho ou filha: primeiro entre a família, depois em meio à sociedade e perante o Estado. E neste sentido, vale aqui destacar o quanto a instituição escolar é fundamental, tanto no processo de substituição do provedorado, quanto na perpetuação do status quo, ou ainda – ...e como não considerar -, em casos bem particulares, no fomento de sua própria negação também.

É bem possível que nas relações sociais existam mecanismos em si, de uma orientação natural que desenvolva o enfrentamento e a substituição do grande pai, da grande mãe, quando estes se mostrem algozes opressores, injustos, castradores. Verificando registros históricos mais evidentes, é possível concluir que a representação do grande provedor, ao expressar sua face de tirania, faz surgir, em meio à prole, um sentimento crescente de revolta que fatalmente lançará empenhos contrários, alterando inclusive suas funções ordenadoras a fim de eliminá-lo ou substituí-lo. Como não mencionar a fatídica eliminação do pai-realeza empreendida por Robespierre e seus todos compatriotas, ou mesmo, a substituição de um pai-divinizado e secular nos esforços de Martinho Lutero e tantos outros protestantes?

Quando Freud denunciava os esforços inconscientes do indivíduo na forma extrema de um parricídio, Marx já o tinha proposto por outras vias e em maior escala através da morte do grande pai-Estado, ou, em outras palavras, na militância por uma sociedade sem Estado, a comunista. Perseguindo o mesmo viés de enfrentamento e libertação frente às limitações impostas pelo grande pai, Friederic Nietzsche decretou o próprio assassinato de Deus:

  • Perante Deus! Mas agora esse Deus morreu! Homens superiores, esse Deus foi o vosso maior perigo. [...] Homens superiores! Só agora vai dar à luz a montanha do futuro humano. Deus morreu: agora nós queremos que viva o Super-Homem. (NIETZSCHE, 2011, p. 238-239)
É interessante que uma postura de enfrentamento surja sempre para neutralizar ações de prostração da prole, mas parece prudente não se propor a eliminação das funções ordenadoras de um sistema social, no lugar de sua substituição, mas com o cuidado de não esquecermos “...tiraram os donos da fazenda e colocaram lá os porcos...” (ORWELL, 1999). Pode ser conveniente, primeiramente, equilibrar ou renovar tais relações num movimento ascendente, onde o que está em jogo, é justamente seu aperfeiçoamento que reconhecemos, em último caso, ser o de justiça, respeito mútuo, transparência e clareza nos objetivos das partes e nos interesses do conjunto.

De modo similar, antes de investir energias na eliminação categórica de um deus histórico, por exemplo, acredito ser mais emergencial implementar, em todos os campos sociais, novas interpretações no intuito de se garantir a gradual emancipação através de um progressivo esclarecimento da prole representada, que aliás, entendo merecer tanto respeito quanto todos os grandes pais provedores de nossa estrutura.

E agora, aqui fica mais fácil perceber que os esforços na direção de uma emancipação consistente é o que sempre motivou os contestadores das sociedades e é o que justamente vem se operando na história da humanidade, tais como sínteses permanentes de um embate constante entre pais e filhos representados, ou, entre tradição e renovação. Mas o que parece certo é que tanto os provedores quanto a prole se aperfeiçoam e se recompõem na profusão desses embates.

Por fim, uma consideração: “Quando toda a sociedade contemporânea vem passando por mudanças estruturais radicais, em especial aqui mesmo no Brasil, como no caso da maior participação produtiva da mulher na sociedade, ou ainda, na sua nova liderança financeira e familiar; e num momento ainda em que o indivíduo ganha mais autonomia, mais acesso às informações, maior participação nas decisões sociais na diversidade de seus âmbitos; enquanto tudo isso está acontecendo, entre outros elementos que julgo não caber aqui, a sociedade parece estar subindo um degrau a mais rumo à assunção de tudo que lhe diz respeito, e é sempre essa a direção que nos importa – como aconteceu noutros momentos da história -; um degrau mais distante daquele bastião de uma autoridade intransigente, distante, repressiva e inquestionável. Trata-se da lancinante epopéia de uma autonomia verdadeiramente democrática. É a extensiva e dura forja da auto-assunção da prole representada. Talvez, o pivô de todos os movimentos sociais humanos, permanente, constante, até que não haja mais necessidade de se perpetuá-lo”.


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